«Este canto é de mulheres!»: Uma história de dominação, «desaparecimento» e resiliência
Resumo
O processo que conduziu ao reconhecimento do Cante Alentejano pela UNESCO encorajou mulheres a organizarem-se para candidatar o canto a vozes de mulheres na Lista do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Com este intuito, agregaram ao seu projeto municípios e centros de produção de conhecimento. Neste estudo analiso esse projeto a partir de quatro tópicos: (i) o mapeamento do canto a vozes de mulheres pela etnografia musical oitocentista e novecentista; (ii) o «desaparecimento» do canto a vozes de mulheres dos processos de folclorização e revitalização de música tradicional ao longo do século XX; (iii) o impacte da convenção da UNESCO na sustentabilidade do canto polifónico de matriz rural, no manifesto a favor do reconhecimento das mulheres como agentes na produção cultural; (iv) um manifesto a favor dos direitos de propriedade intelectual e artística e da governança do canto a vozes; (v) a estratégia de resiliência onde se inclui o nosso papel como estudiosos. Tenho como objetivos indagar contextos nos quais competências musicais e saberes práticos tradicionais habilitam a agir socialmente, inclusive em situação de subalternidade; e perceber o impacte da convenção da UNESCO em torno do património imaterial da humanidade na sustentabilidade do canto a vozes de mulheres.
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