Raros exemplares e escassa memória: Um estudo de caso sobre o revivalismo da viola toeira em Coimbra

Resumo

Este artigo centra-se no revivalismo da viola toeira, uma viola de arame que, em meados do século XX, foi descrita como estando em vias de desaparecimento. Em meados da década de 2010, a construção deste instrumento foi retomada por violeiros da cidade de Coimbra. As suas oficinas estabeleceram um contexto privilegiado para o surgimento de projetos revivalistas. Contrastando com iniciativas empreendidas na década de 1980, lideradas por autarcas e académicos que pretendiam «recuperar» a viola toeira para fomentar a «verdade» do folclore local, este ciclo pós-revivalista (Bithel - Hill 2014) emergiu como uma dinâmica bottom-up que reuniu pessoas de diferentes perfis profissionais e académicos, implicadas em processos de trabalho colaborativo que visaram assegurar a sustentabilidade deste instrumento. Durante o trabalho de campo, constatei que estas pessoas se socorrem de conceitos como «autenticidade» e «fidelidade histórica», deixando antever uma intenção de se vincularem ao passado da viola toeira e, assim, estabelecer a sua legitimidade como «guardiães» desta parcela do património musical local. Neste estudo, proponho-me sistematizar a informação disponível sobre os violeiros e tocadores de viola que mais se destacaram em Coimbra entre meados do século XIXe o início do século XX e documentar os contextos performativos e repertórios musicais associados à viola toeira. No seguimento deste enquadramento histórico, discuto o papel desempenhado por folcloristas e etnógrafos no mapeamento e caracterização deste instrumento. Finalmente, centrar-me-ei nos projetos de revivalismo da viola toeira levados a cabo em Coimbra nas décadas de 1980 e 2010, identificando os seus impulsionadores e explorando os objetivos e valores que nortearam esses projetos.