Mistérios e maravilhas: O rock sinfónico/progressivo em Portugal na década de 1970
Resumo
Na segunda metade da década de 1960, a expansão internacional do pop-rock foi fulcral na instituição de novos valores associados a uma emergente cultura juvenil. Estes valores foram espelhados na configuração de um novo conjunto de repertórios, sendo este mediaticamente caracterizado enquanto englobado num recém-constituído universo do «rock». Se o processo de consolidação desta categoria já pressupunha uma aproximação ao sistema valorativo usualmente associado ao universo da música erudita, sendo a distinção entre música «rock» e música «pop» assente numa suposta «profundidade» que permitiria a legitimação da primeira enquanto «forma de arte», é na senda da sua segmentação em novas variantes que esta aproximação seria aprofundada. Esta segmentação proporcionou, sobretudo em Inglaterra, a configuração de uma nova categoria denominada progressive rock, com alguns músicos a inspirarem-se em aspectos e valores conotados com o campo de tradição musical erudita ocidental. Em Portugal, a apresentação de nova música pop era prática regular de inúmeros conjuntos de baile durante a década de 1960. Contudo, é a partir do início da década de 1970 que começam a surgir os primeiros sinais de identificação, por parte de alguns músicos portugueses, com um rock que se pretende «sinfónico», materializada na configuração de novo repertório. Este artigo pretende abordar os casos de grupos e artistas como Petrus Castrus, Ephedra, Psico, José Cid, Perspectiva e Tantra enquanto exemplos desta tendência, explorando também as relações entre os próprios e a indústria fonográfica, assim como a sua importância na instituição do concerto rock enquanto tipologia de espectáculo no país.