A música na Igreja do Loreto em Lisboa, entre 1755 e 1785: As cerimónias religiosas, entre abalos sísmicos e políticos
Resumo
A Igreja do Loreto (Lisboa) foi fundada pela comunidade italiana, no início do século XVI. Chamada também Igreja dos Italianos, gozava da isenção da jurisdição do Patriarcado de Lisboa, dependendo diretamente do Papa e, em Lisboa, do Núncio Apostólico. Destruída pelo incêndio que deflagrou depois do terremoto de 1755, com exceção do arquivo e da sacristia, no fim da década de 1750 a igreja retomou as celebrações na sacristia, comemorando de forma solene as festividades mais importantes do calendário litúrgico. O foco deste artigo são as cerimónias solenes e a sua música, organizadas entre 1755 e 1785, na Igreja do Loreto. Da análise dos documentos do seu arquivo surgiram algumas dúvidas e questões, visto que a maioria das celebrações solenes de grande relevo e de natureza política (nomeações e exéquias de papas e monarcas), tinha sido realizada entre 1773 e 1777. Porquê? Era apenas por uma questão económica, devido à grande destruição causada pelo terremoto? Houve extravios de documentos ou realmente algumas datas/personagens importantes não foram comemoradas? Cruzando a análise dos documentos do arquivo com elementos históricos, sobressaíram dados importantes: a partir de 1755, a organização das cerimónias da Igreja dos Italianos foi moldada por dois tipos de abalos, um de natureza sísmica e outro de caráter político.