Os sons de África nos primeiros anos do Estado Novo: Entre exotismo e “vocação imperial”
Resumo
Procuramos neste artigo evidenciar a forma como nas décadas de trinta e quarenta foram tratados em Portugal os elementos musicais conotados com o que então se chamou de «música negra». Começamos por abordar a recepção do Jazz e da arte negra nos anos vinte, para nos interessarmos depois pelas modalidades de exposição dos objectos e das práticas artísticas africanas nos espaços das exposições coloniais e nos discursos da revista O Mundo Português, expressões do modelo imperial fabricado pelo Estado Novo. Seguimos enfim, numa perspectiva comparada, o percurso de dois autores que desenvolveram na sua música uma reelaboração do imaginário que a metrópole construíra em torno da música africana: Frederico de Freitas, que na sua Suite colonial reproduziu um universo sonoro que remete para uma estética primitivista, e Belo Marques, compositor que tentou através da utilização de materiais recolhidos em Moçambique, realizar uma síntese entre as tradições indígenas e a música ocidental.