Scenas nas montanhas: Viana da Mota e os Açores em 1895

Luísa Cymbron

Resumo


Em 1933, Viana da Mota mencionou o uso de temas populares dos Açores em Scenas nas montanhas, op. 14, publicadas no Brasil em 1908. Porém, as duas peças que compõem esta obra integravam originalmente o Quarteto em sol maior, composto no Verão de 1895, durante os quatro meses que o pianista e compositor passou na ilha de S. Miguel, na sequência da tournée que o levara, em companhia de Bernardo Moreira de Sá, a visitar os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Partindo de uma investigação sobre essa estada, este artigo tenta contribuir para uma leitura mais contextualizada das duas obras acima referidas, bem como para a revisão de certos aspectos da biografia de Viana da Mota. A ligação do Quarteto em sol maior, que incluía uma «Scena nas Montanhas», aos Açores permite enquadrá-lo num ideal de pitoresco e num conjunto de tópicos do Romantismo, através dos quais a paisagem micaelense, em particular o Vale e Lagoa das Furnas, foi sendo moldada, bem como em ambientes sonoros a que o compositor esteve exposto na Ilha. Constata-se, além disso, a sua proximidade estética com a Sinfonia «À Pátria» e com o novo paradigma musical que Viana da Mota pretendia implementar em Portugal, a partir da fusão dos géneros sinfónicos e de câmara germânicos, com uma componente programática e elementos de música «popular» portuguesa. O Quarteto é assim um elo importante para a compreensão dos projectos pessoais e profissionais do compositor em meados da década de 1890, num período em que tinha em mente fixar-se definitivamente em Portugal.


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